Nathalia Santos
O uso da vírgula, não raro, é ensinado como “a pausa que
fazemos para respirar” em uma frase, no entanto, o emprego da vírgula requer
muita atenção, especialmente de acordo com o sentido da mensagem que queremos
transmitir. Por exemplo:
As
mulheres, animadas, trabalharam o dia todo.
(Sentido de generalização = Todas as
mulheres estavam animadas e trabalharam o dia todo.)
As
mulheres animadas trabalharam o dia todo.
(Sentido de restrição = Somente as
mulheres animadas trabalharam o dia todo.)
As
mulheres trabalharam animadas o dia todo.
Ou
ainda
Animadas,
as mulheres trabalharam o dia todo.
Segundo a Gramática Cegalla, devemos usar a vírgula em:
“
Para separar palavras ou
orações justapostas assindéticas:
A terra, o mar, o céu, tudo apregoa a glória de Deus.
Os passantes chegam, olham, perguntam e prosseguem.
Para
separar vocativos:
‘Olha, Roque,
você me vai dar um remédio. ’ (Menotti Del Picchia)
Para separar
apostos e certos predicativos:
São Marcelino
Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, destaca-se
entre os grandes educadores da juventude.
‘Pássaro e
lesma, o homem oscila entre o desejo de voar e o desejo de arrastar. ’
(Gustavo Corção)
Lentos e tristes, os retirantes
iam passando.
Para separar orações intercaladas e outras
de caráter explicativo:
A História, diz
Cícero, é a mestra da vida.
Segundo afirmam, há no mundo
396.000 espécies vivas de animais.
‘O jornal, como
o entendem home em dia, é o mergulho absoluto na intensidade da vida. ’
(Félix Pacheco)
Para separar certas expressões
explicativas ou retificativas, como isto é, a saber, por
exemplo, ou melhor, ou antes, etc. Exemplo:
O amor, isto é,
o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu princípio em Deus.
Para separar orações adjetivas
explicativas:
Pelas 11h do dia, que
foi de sol ardente, alcançamos a margem do rio Paraná.
‘O coronel ia
enchendo o tambor do revólver, do qual nunca se apartava. ’ (Herberto
Sales)
De modo geral, para separar orações
adverbiais desenvolvidas:
Enquanto o marido
pescava,
Rosa ficava pintando a paisagem.
Para separar orações adverbiais reduzidas:
‘Dali eu via, sem
ser visto, a sala de visitas. ’ (Lúcio de Mendonça)
‘Findas as lições, espaçou as visitas,
sumiu-se afinal. ’ (Graciliano Ramos)
‘O tiroteio
inesperado, violentando a paz da noite, fez a cidade estremecer...’
(Herberto Sales)
Para separar adjuntos adverbiais:
‘Eis que, aos
poucos, lá para as bandas do oriente, clareia um cantinho do céu. ’
(Visconde de Taunay)
Com mais de
setenta anos,
andava a pé. ’ (Graciliano Ramos)
– O
adjunto adverbial, quando breve, pode dispensar a vírgula:
‘Dentro do
navio homens e mulheres conversavam. ’ (Jorge Amado)
Para indicar a elipse de um termo:
Uns diziam que se
matou, outros, que fora para o Acre. [=outros diziam que fora para o Acre]
‘Às vezes sobe aos
ramos da árvore; outras, remexe o uru de palha matizada. ’ (José de Alencar) [=
outras vezes]
Para separar certas conjunções
pospositivas, como porém, contudo, pois, entretanto,
portanto, etc.:
‘Vens, pois,
anunciar-me uma desventura. ’ (Alexandre Herculano)
‘As pessoas
delicadas, contudo, haviam desde a véspera abandonando a cidade. ’ (João
Ribeiro)
Para separar os elementos paralelos de um
provérbio:
Mocidade ociosa,
velhice vergonhosa.
Para separar termos que desejamos realçar:
O dinheiro, Jaime o trazia
escondido nas mangas do paletó.
Para separar, nas datas, o nome do lugar:
Rio de Janeiro, 10 de maio de
2000.
”
(CEGALLA,
2008, p. 428-429)
No entanto, não devemos usar vírgula nos seguintes casos:
“
Entre o sujeito e o verbo da oração,
quando juntos:
Atletas de várias
nacionalidades participarão da grande maratona.
Entre o verbo e seus complementos, quando
juntos:
Dona Elza pediu ao
diretor do colégio que colocasse o filho em outra turma.
Em geral, antes de oração adverbial
consecutiva do tipo:
O vento soprou tão
forte que arrancou mais de uma árvore.
”
(CEGALLA,
2008, p. 429-430)
REFERÊNCIAS
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da
língua portuguesa. 47. Ed. São Paulo: IBEP, 2008.