terça-feira, 17 de novembro de 2020

O uso da vírgula

            Nathalia Santos

            O uso da vírgula, não raro, é ensinado como “a pausa que fazemos para respirar” em uma frase, no entanto, o emprego da vírgula requer muita atenção, especialmente de acordo com o sentido da mensagem que queremos transmitir. Por exemplo:

As mulheres, animadas, trabalharam o dia todo.

(Sentido de generalização = Todas as mulheres estavam animadas e trabalharam o dia todo.)

As mulheres animadas trabalharam o dia todo.

(Sentido de restrição = Somente as mulheres animadas trabalharam o dia todo.)

As mulheres trabalharam animadas o dia todo.

Ou ainda

Animadas, as mulheres trabalharam o dia todo.

            Segundo a Gramática Cegalla, devemos usar a vírgula em:

Para separar palavras ou orações justapostas assindéticas:

A terra, o mar, o céu, tudo apregoa a glória de Deus.

Os passantes chegam, olham, perguntam e prosseguem.

 

Para separar vocativos:

 

‘Olha, Roque, você me vai dar um remédio. ’ (Menotti Del Picchia)

 

Para separar apostos e certos predicativos:

 

São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, destaca-se entre os grandes educadores da juventude.

Pássaro e lesma, o homem oscila entre o desejo de voar e o desejo de arrastar. ’ (Gustavo Corção)

Lentos e tristes, os retirantes iam passando.

 

Para separar orações intercaladas e outras de caráter explicativo:

 

A História, diz Cícero, é a mestra da vida.

Segundo afirmam, há no mundo 396.000 espécies vivas de animais.

‘O jornal, como o entendem home em dia, é o mergulho absoluto na intensidade da vida. ’ (Félix Pacheco)

 

Para separar certas expressões explicativas ou retificativas, como isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc. Exemplo:

 

O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu princípio em Deus.

 

Para separar orações adjetivas explicativas:

 

Pelas 11h do dia, que foi de sol ardente, alcançamos a margem do rio Paraná.

‘O coronel ia enchendo o tambor do revólver, do qual nunca se apartava. ’ (Herberto Sales)

 

De modo geral, para separar orações adverbiais desenvolvidas:

 

Enquanto o marido pescava, Rosa ficava pintando a paisagem.

 

Para separar orações adverbiais reduzidas:

 

‘Dali eu via, sem ser visto, a sala de visitas. ’ (Lúcio de Mendonça)

Findas as lições, espaçou as visitas, sumiu-se afinal. ’ (Graciliano Ramos)

‘O tiroteio inesperado, violentando a paz da noite, fez a cidade estremecer...’ (Herberto Sales)

 

Para separar adjuntos adverbiais:

 

‘Eis que, aos poucos, lá para as bandas do oriente, clareia um cantinho do céu. ’ (Visconde de Taunay)

Com mais de setenta anos, andava a pé. ’ (Graciliano Ramos)

 

  O adjunto adverbial, quando breve, pode dispensar a vírgula:

 

Dentro do navio homens e mulheres conversavam. ’ (Jorge Amado)

 

Para indicar a elipse de um termo:

 

Uns diziam que se matou, outros, que fora para o Acre. [=outros diziam que fora para o Acre]

‘Às vezes sobe aos ramos da árvore; outras, remexe o uru de palha matizada. ’ (José de Alencar) [= outras vezes]

 

Para separar certas conjunções pospositivas, como porém, contudo, pois, entretanto, portanto, etc.:

 

‘Vens, pois, anunciar-me uma desventura. ’ (Alexandre Herculano)

‘As pessoas delicadas, contudo, haviam desde a véspera abandonando a cidade. ’ (João Ribeiro)

 

Para separar os elementos paralelos de um provérbio:

 

Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.

 

Para separar termos que desejamos realçar:

 

O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas do paletó.

 

Para separar, nas datas, o nome do lugar:

 

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2000.

(CEGALLA, 2008, p. 428-429)

 

No entanto, não devemos usar vírgula nos seguintes casos:

 

Entre o sujeito e o verbo da oração, quando juntos:

 

Atletas de várias nacionalidades participarão da grande maratona.

 

Entre o verbo e seus complementos, quando juntos:

 

Dona Elza pediu ao diretor do colégio que colocasse o filho em outra turma.

 

Em geral, antes de oração adverbial consecutiva do tipo:

 

O vento soprou tão forte que arrancou mais de uma árvore.

(CEGALLA, 2008, p. 429-430)

 

REFERÊNCIAS

 

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 47. Ed. São Paulo: IBEP, 2008.


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