domingo, 12 de abril de 2020

Animação Tradicional - Origem e principais técnicas



Animação Tradicional - Origem e principais técnicas


Vinicius Iubel Orizio

Quando falamos sobre animação, é difícil apontar no ponto certo o qual ela surgiu, pois existe um número bem diverso de tipos e técnicas (como 2d, 3d, stop motion etc.), que foram desenvolvidos de forma independente ao longo dos anos. O desejo de dar vida a desenhos estáticos pode remontar ao paleolítico, quando animais eram retratados em diferentes posições sobrepostas ilustrando uma ação (imagem 1). Mais tarde, a partir do século XVII, começaram a aparecer ferramentas como a Lanterna Mágica e o Fenacistoscópio (imagem 2), que eram capazes de gerar a ilusão de movimento em ilustrações, e serviram de base para o surgimento de outros equipamentos, como o cinematógrafo, fundamental para o surgimento do cinema. No entanto, o tipo de animação que iremos tratar hoje é aquela conhecida como animação tradicional, que foi, por muitos anos, a forma mais comum de se fazer desenhos animados.
Imagem 1: Desenho rupestre, na Caverna de Chauvet,
ilustrando animais em movimento.

Phenakistoscopes (1833) – The Public Domain Review
Imagem 2: Fenacistoscópio causando a ilusão de movimento.
A animação tradicional é caracterizada por ter cada quadro (frame) desenhado a mão. A origem dessa técnica está diretamente conectada com a origem do cinema. Não há um consenso de qual foi o primeiro filme animado da história, pois, apesar do inventor Charles-Émile Reynaud ter apresentado três curtas-metragens animados em sua máquina de projeção batizada de Théatre Optique, em 1892, esses ainda não eram considerados filmes de fato (gravados e projetados em película). Foi só mais de quinze anos depois, em 1908, que apareceu “Fantasmagorie”, obra dirigida pelo também francês Émile Cohl, que inaugurou a animação tradicional como a conhecemos. O curta-metragem de Cohl consiste de simples desenhos lineares que se transformam, de maneira fluida, em outros desenhos. É importante lembrar que antes de Fantasmagorie, outros cineastas já tinham feito experimentos com outras técnicas de animação (como stop motion) no cinema.
Quatro minutos restaurados do curta "Pauvre Pierrot" (1892). O que sobreviveu da obra de Reynaud. Infelizmente o restante foi perdido.
O curta-metragem "Fantasmagorie" (1908), de Cohl, considerado o primeiro filme inteiramente animado e pioneiro da técnica de animação tradicional

No Estados Unidos, o prolífico e influente cartunista Winsor McCay lançou o curta  “Gertie the Dinosaur”, em 1914, apresentando a dinossaura Gertie, a primeira estrela do cartoon americano. A partir daí, começaram a aparecer empresas especializadas em animações, como a Barré Studio, com produção de cartoons em massa. E é aqui que paramos o nosso recorte histórico, pois logo surgiriam nomes como Gato Félix e Walt Disney, com seu Mickey Mouse, assuntos que merecem posts próprios. Vamos falar, então, um pouco sobre as principais técnicas utilizadas na animação tradicional.

“Gertie the Dinosaur” (1914)

Célula: Este é o nome que se dá a finas folhas de papel transparente que eram utilizadas nas animações. Nessa técnica, o animador faz a ilustração de cada quadro nas células, desenhando de um lado e pintando do outro. Essas células são posicionadas em cima de uma imagem de fundo (background), onde são fotografadas, para depois serem animadas em 12 ou 24 quadros por segundo. É um método econômico, pois os quadros não precisam ser redesenhados inteiramente para cada movimento, já que as células podem ser sobrepostas e elementos como o cenário e objetos estáticos podem ser reaproveitados em todos os quadros de uma cena. Um exemplo de filme que usa essa técnica é “A Pequena Sereia” (1989), último filme da Disney pintado a mão.
Mesmo que não tenha sido inteiramente animado dessa forma, "A Pequena Sereia" (1989) foi o último filme da Disney a ser pitando a mão, com a utilização de células

Animação Limitada: Consiste em uma técnica barata em que o reaproveitamento de imagens é levado bastante a sério. Aqui só são animadas as partes que vão realmente se mover, como por exemplo, apenas a boca de um personagem se mexe, enquanto todo o resto de seu corpo, como a cabeça (que se moveria em uma animação realística), permanece estático, dando um ar robótico a animação. Às vezes, até cenas inteiras são reutilizadas em episódios diferentes de um cartoon ou anime. Foi muito usado nos desenhos da Hanna-Barbera, como “Scooby-Doo, Where Are You?” (1969) e outras produções de baixo orçamento. 
Vídeo (em inglês) descrevendo o processo de criação do estúdio Hanna-Barbera, utilizando técnicas de animação por célula e animação limitada.

Câmera multiplano: Buscando dar uma sensação de profundidade à animação 2D, as camadas da animação são posicionadas a uma certa distância uma da outra na hora de fotografar os quadros. Um exemplo da câmera multiplano pode ser visto em Bambi (1942). No vídeo abaixo, em inglês, a técnica é explicada pelo próprio Walt Disney.

Walt Disney explicando o funcionamento da câmera multiplano

Rotoscopia: Na rotoscopia, o animador desenha os traços, quadro a quadro, com base em filmagens de atores reais, dando um aspecto extremamente realista aos movimentos. Como exemplo da técnica, podemos citar o clássicos da Disney “Branca de Neve e os Sete Anões”(1937).
Making Of de "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937, em português). A técnica de rotoscopia propriamente dita (desenho em cima da imagem real) não é mostrada aqui, porque Disney queria que os desenhos fossem apenas baseados em imagens reais e não totalmente copiados, no entanto a técnica acabou sendo utilizada para que o filme ficasse pronto mais rápido.

O que aconteceu com a animação tradicional? Podemos dizer que animação tradicional, feita a mão e fotografada quadro a quadro, praticamente já não existe mais. Entretanto, a partir da década de 80, com o crescimento da utilização de computadores, muitas das técnicas e princípios da animação tradicional foram sendo transportados gradualmente para a animação 2D feita em computador. Embora a maior parte dos filmes animados hollywoodianos hoje seja feita em 3D, as produções 2D continuam sendo feitas em larga escala na TV americana e nas produções japonesas. Os entusiastas do 2D (como o blogueiro que vos escreve) podem ficar tranquilos, porque os desenhos bidimensionais continuarão fazendo parte de nossa cultura pop por um bom tempo.

Totoro's face in the rain ☂ (With images) | Studio ghibli, Studio ...

REFERÊNCIAS

ANIMAÇÃO S.A. Branca de Neve e os Sete Anões – O Filme Marco na História do Cinema de Animação (2ª Parte). 2015. Disponível em: <http://animacaosa.blogspot.com/2015/08/branca-de-neve-e-os-sete-anoes-o-filme.html> Acesso em: 11 abr. 2020.

AZÉMA, Marc; RIVÈRE, Florent. Animation in Palaeolithic art: a pre-echo of cinema. Antiquity, Cambridge, v. 86, n. 332, p.316-324, jun. 2012. Disponível em: <http://lisahistory.net/hist106/pw/articles/AnimationinPalaeolithicArt.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2020.

DIRKS, Tim. Animated Films. Disponível em: <https://www.filmsite.org/animatedfilms.html> Acesso em: 11 abr. 2020.

HEGINBOTHAM, Claire. What Is Cel Animation & How Does It Work?. Disponível em: <https://conceptartempire.com/cel-animation/> Acesso em: 11 abr. 2020.

NANQUIM. Fenacistoscópio e a base para a animação. 2017. Disponível em <https://nanquimsite.wordpress.com/2017/08/06/fenacistoscopio-e-a-base-para-a-animacao/> Acesso em: 11 abr. 2020.

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