terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 

                                                  REGÊNCIA VERBAL

Sabrina Markoski

Neste último post sobre sintaxe de regência, vamos trabalhar a regência verbal. Lembrando que essa regência trata da relação dos verbos com os termos que eles regem, sendo os primeiros os determinantes e os segundos, os determinados. Ou seja, a regência verbal aborda a relação de subordinação entre um verbo e seu complemento e/ou preposição.

Quando um verbo é intransitivo ou transitivo direto ele não precisa de preposição, porém essa pode, em algumas situações, estar presente.

Já um verbo transitivo indireto exige uma preposição para completar seu sentido.

Vamos observar alguns verbos que admitem mais de uma regência sem mudar de sentido:


A aurora antecede o dia.

A aurora antecede ao dia.

 

José não tarda a chegar.

José não tarda em chegar.

 

A ventania precedeu a chuva.

A ventania precedeu à chuva.

 

Cumpriremos com o nosso dever.

Cumpriremos o nosso dever.


Outros verbos, porém, possuem outra significação se sua regência for mudada:


Aspirei o aroma das flores.

Aspirei ao sacerdócio.

 

Bonifácio assistiu ao jogo.

Bonifácio assistiu o enfermo.


Vejamos a regência de alguns verbos da língua portuguesa:

Ajudar

É construído com objeto direto de pessoa:

Antônio ajudava o pai na roça.

Nós os ajudaremos.

Eu ajudava-o a subir a escada.

 

Ansiar

Se significar mal-estar, angústia, então ansiar é um verbo transitivo direto:

“O cansaço ansiava-o.” (CAMILO CASTELO BRANCO)

Porém, se significar um grande desejo, então é, geralmente transitivo indireto:

Ansiava pelo novo dia que vinha nascendo.” (FERNANDO SABINO)

E, as vezes é transitivo direto, quando indica ideia intensiva:

“Minha alma anseia o infinito” (AMADEU DE QUEIRÓS)

 

Assistir

Quando significa prestar assistência, conforto, ajuda, é transitivo direto:

O médico assiste o paciente.

Quando significa presenciar, o verbo assistir é transitivo indireto acompanhada da preposição a:

“O gari a tudo assistia com os olhos esbugalhados.” (ASSIS BRASIL)

Nesse caso, se o objeto for pronome pessoal, não se usam as formas lhe, lhes, mas a ele(s), a ela(s):

“Não é propósito nosso descrevermos uma corrida de touros, Todos têm assistido a elas...” (REBELO DA SILVA)

O verbo assistir também pode ter sentido de caber, pertencer. Nesse caso é transitivo indireto:

Assiste ao réu o direito de se defender.

E, ainda, assistir pode ser usado no sentido de morar, residir. Também sendo transitivo indireto (com a preposição em):

“Sou obrigado por esta desgraçada posição de deputado a assistir mais algum tempo na capital.” (CAMILO CASTELO BRANCO)

 

Chamar

Pode ser transitivo direto:

O rei o chamou à sua presença.

Ninguém o chamou aqui, moço. (Não admite “lhe chamou”)

O objeto direto pode ser regido por preposição de realce por (não necessária, mas possível):

Chamei por você com insistência, não me ouviu?

Pode ser construído com objeto seguido do predicativo, admitindo as seguintes regências:

Chamaram-no, chamaram-lhe, chamaram-no de, chamaram-lhe de.

“Nós o chamávamos tiozinho e brincávamos com ele como um boneco.’ (RAQUEL DE QUEIRÓS)


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

 

REGÊNCIA NOMINAL

Sabrina Markoski

 

No post passado, relacionado a sintaxe de regência, trabalhamos uma visão geral de como essa sintaxe ocorre. Neste post, iremos estudar a regência nominal.

Como o próprio nome indica, a regência nominal trata de nomes que regem outros termos em uma sentença. Ela é a relação entre esses dois estabelecida, geralmente, por meio de uma preposição. Alguns substantivos e adjetivos (nomes) permitem mais de uma regência, isto é, com eles se pode usar mais de uma preposição para estabelecer a relação entre o termo regente e o termo regido.

Vejamos dois exemplos de nomes que permitem mais de uma regência:

Amor:

“Tenha amor a seus livros”; (CEGALLA, 2008, p. 487)

“Os pais incutiram-lhe o amor do estudo”; (CEGALLA, 2008, p. 487)

“Meu amor pelos moços divinizava outrora a mocidade” (MACHADO DE ASSIS)

Atualmente, segundo Cegalla (2008) é preferível o uso das preposições por e a.

Ansioso:

“Olhos ansiosos de novas paisagens”; (LUÍS JARDIM)

“Estava ansioso por vê-la”; (CAMILO CASTELO BRANCO)

“Eu estava ansioso para rever a Rua da Fábrica”; (POVINA CAVALCÂNTI)

Outros nomes que permitem mais de uma regência:

Afável à com, para com;

Aflito à com, por;

Alheio à a, de;

Aversão à a, para, por;

Aliado à a, com;

Atencioso à com, para com;

Imune à a, de;

Compaixão à de, para com, por;

Contente à com, de, em, por;

Respeito à a, com, de, para com, por;

Simpatia à a, para com, por.

 

Referência: CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. 

 

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

O uso da vírgula

            Nathalia Santos

            O uso da vírgula, não raro, é ensinado como “a pausa que fazemos para respirar” em uma frase, no entanto, o emprego da vírgula requer muita atenção, especialmente de acordo com o sentido da mensagem que queremos transmitir. Por exemplo:

As mulheres, animadas, trabalharam o dia todo.

(Sentido de generalização = Todas as mulheres estavam animadas e trabalharam o dia todo.)

As mulheres animadas trabalharam o dia todo.

(Sentido de restrição = Somente as mulheres animadas trabalharam o dia todo.)

As mulheres trabalharam animadas o dia todo.

Ou ainda

Animadas, as mulheres trabalharam o dia todo.

            Segundo a Gramática Cegalla, devemos usar a vírgula em:

Para separar palavras ou orações justapostas assindéticas:

A terra, o mar, o céu, tudo apregoa a glória de Deus.

Os passantes chegam, olham, perguntam e prosseguem.

 

Para separar vocativos:

 

‘Olha, Roque, você me vai dar um remédio. ’ (Menotti Del Picchia)

 

Para separar apostos e certos predicativos:

 

São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, destaca-se entre os grandes educadores da juventude.

Pássaro e lesma, o homem oscila entre o desejo de voar e o desejo de arrastar. ’ (Gustavo Corção)

Lentos e tristes, os retirantes iam passando.

 

Para separar orações intercaladas e outras de caráter explicativo:

 

A História, diz Cícero, é a mestra da vida.

Segundo afirmam, há no mundo 396.000 espécies vivas de animais.

‘O jornal, como o entendem home em dia, é o mergulho absoluto na intensidade da vida. ’ (Félix Pacheco)

 

Para separar certas expressões explicativas ou retificativas, como isto é, a saber, por exemplo, ou melhor, ou antes, etc. Exemplo:

 

O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu princípio em Deus.

 

Para separar orações adjetivas explicativas:

 

Pelas 11h do dia, que foi de sol ardente, alcançamos a margem do rio Paraná.

‘O coronel ia enchendo o tambor do revólver, do qual nunca se apartava. ’ (Herberto Sales)

 

De modo geral, para separar orações adverbiais desenvolvidas:

 

Enquanto o marido pescava, Rosa ficava pintando a paisagem.

 

Para separar orações adverbiais reduzidas:

 

‘Dali eu via, sem ser visto, a sala de visitas. ’ (Lúcio de Mendonça)

Findas as lições, espaçou as visitas, sumiu-se afinal. ’ (Graciliano Ramos)

‘O tiroteio inesperado, violentando a paz da noite, fez a cidade estremecer...’ (Herberto Sales)

 

Para separar adjuntos adverbiais:

 

‘Eis que, aos poucos, lá para as bandas do oriente, clareia um cantinho do céu. ’ (Visconde de Taunay)

Com mais de setenta anos, andava a pé. ’ (Graciliano Ramos)

 

  O adjunto adverbial, quando breve, pode dispensar a vírgula:

 

Dentro do navio homens e mulheres conversavam. ’ (Jorge Amado)

 

Para indicar a elipse de um termo:

 

Uns diziam que se matou, outros, que fora para o Acre. [=outros diziam que fora para o Acre]

‘Às vezes sobe aos ramos da árvore; outras, remexe o uru de palha matizada. ’ (José de Alencar) [= outras vezes]

 

Para separar certas conjunções pospositivas, como porém, contudo, pois, entretanto, portanto, etc.:

 

‘Vens, pois, anunciar-me uma desventura. ’ (Alexandre Herculano)

‘As pessoas delicadas, contudo, haviam desde a véspera abandonando a cidade. ’ (João Ribeiro)

 

Para separar os elementos paralelos de um provérbio:

 

Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.

 

Para separar termos que desejamos realçar:

 

O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas do paletó.

 

Para separar, nas datas, o nome do lugar:

 

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2000.

(CEGALLA, 2008, p. 428-429)

 

No entanto, não devemos usar vírgula nos seguintes casos:

 

Entre o sujeito e o verbo da oração, quando juntos:

 

Atletas de várias nacionalidades participarão da grande maratona.

 

Entre o verbo e seus complementos, quando juntos:

 

Dona Elza pediu ao diretor do colégio que colocasse o filho em outra turma.

 

Em geral, antes de oração adverbial consecutiva do tipo:

 

O vento soprou tão forte que arrancou mais de uma árvore.

(CEGALLA, 2008, p. 429-430)

 

REFERÊNCIAS

 

CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 47. Ed. São Paulo: IBEP, 2008.


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 

                                 COLOCAÇÃO PRONOMINAL      

                                                                                 Raiane Vicente

A colocação pronominal é a posição dos pronomes pessoais oblíquos átonos ocupam na frase em relação ao verbo.

Os pronomes pessoais oblíquos átonos são: me, te, se, o(s), a(s), lhe(s), nos, vos.

O pronome pode aparecer em três posições diferentes em relação ao verbo:

Próclise

É quando o pronome se posiciona antes do verbo.

Ex: Todos se revoltaram com ele.

Uso da Próclise: ela ocorrerá quando, antes do verbo houver uma força atrativa sobre o pronome obliquo.

1-      PALAVRAS NEGATIVAS: não, nada, nunca, etc

      Ex: Nunca se esqueça de nós.

2-      ADVÉRBIOS: sempre, já, talvez, ali, etc.

Ex: Eles sempre nos deixaram felizes.

3-      PRONOMES RELATIVOS: que, qual, cujo, quem, etc.

Ex: Essas são as pessoas que nos ajudaram.

4-      PRONOMES INDEFINIDOS: tudo, nada, alguém, etc

Ex: Alguém o encontrou na balada.

5-      PRONOMES DEMONSTRATIVOS: este(s), esta(s), aquele(s), isto, isso, etc.

Ex: Isso nos inquietou.

6-      CONJUÇÕES SUBORDINADAS: que, se, quando, como, mesmo que, etc.

Ex: Quando me contaram o ocorrido, fiquei triste.

7-      NAS ORAÇÕES EXCLAMATIVAS E OPTATIVAS:

Ex: Os anjos te  protejam! (oração optativa)

      Como nos enganamos! (oração exclamativa)

8-      Com a preposição EM+GERÚNDIO

Em se falando de música, prefiro o sertanejo.

Mesóclise

É quando o pronome oblíquo se posiciona no meio do verbo.

Ex: Dar-lhe-ei a resposta hoje.

Uso da mesóclise: o pronome oblíquo só pode ser mesóclise quando o verbo estiver no futuro do presente ou do pretérito.

Ex: Dar-lhe-ão outra novidade. (darão= verbo no futuro do presente)

 Ex: Poder-se-ia dizer que ele era inteligente. (poderia= verbo no futuro do pretérito)

 

Ênclise

É quando o pronome oblíquo se posiciona depois do verbo.

Ex: Respondi-lhes que voltaria.

Uso da ênclise:

1-      QUANDO O VERBO INICIA A ORAÇÃO:

Ex: Dei-lhe as instruções que ele pediu.

2-      AS ORAÇÕES IMPERATIVAS AFIRMATIVAS:

Ex: Meu amigo esqueça-se desse fato.

Obs: De acordo com a norma culta da língua portuguesa, nunca se inicia uma oração com um pronome oblíquo.

 

Referências:

MARTINO, Agnaldo. Português esquematizado: gramática, interpretação de texto, redação oficial, redação discursiva. 1. Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Instrumental. 20. ed. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 1999.

 

 

 

 

 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Latim- A Segunda Declinação

 

ADJETIVOS DE PRIMEIRA CLASSE

Josiele Zevierzecoski

De acordo com Ari José de Souza (p. 23), os adjetivos em português e em latim concordam em gênero e número com o substantivo a que se refere. Exemplificando, em “menino bonito”, o adjetivo concorda em gênero (masculino) e número (singular).

Em latim, existem três gêneros: masculino, feminino e neutro. Dessa forma o adjetivo acompanha o gênero e o número do substantivo. Um exemplo é a palavra BONITO quando está na função de adjetivo, quando acompanha o substantivo, ela concordará com os três gêneros. Eles são chamados de adjetivos de primeira classe porque pertence à primeira e segunda declinação.

Quando o substantivo a que o adjetivo se refere for masculino, o adjetivo seguirá a segunda declinação, mas se for feminino, seguirá a primeira declinação.

Exemplo: BONITO- em latim BELUS para o masculino; BELLA para o feminino; BELLUM para o neutro.

Para escrever a frase MENINO BONITO, em latim, é PUER BELUS, pois puer é masculino e está no singular, logo belus tem que estar no masculino singular.

Em MENINA BONITA, em latim, será PUELLA BELA, dado que menina é feminino e está no singular, logo o adjetivo bela tem que estar no singular feminino.

Em PRESENTE BONITO, em latim, ficará DONUM BELUM,  porque a palavra presente termina em um, isso significa que é neutra e está no singular, portanto, o adjetivo tem que ser neutro e no singular.

Quando aparecer em atividades a forma: BELLU- A- UM= BONITO, indicará que se trata de um adjetivo que poderá pertencer tanto à primeira e à segunda declinação, de acordo com o gênero a que se refere.

Singular

 

MASCULINO

FEMININO

NEUTRO

NOMINATIVO

Belus

Bela

Belum

GENITIVO

Beli

Belae

Beli

DATIVO

Belo

Belae

Belo

ACUSATIVO

Belum

Belam

Belum

VOCATIVO

Bele

Bela

Belum

ABLATIVO

Belo

Bela

Belo

 



Plural

 

 

MASCULINO

FEMININO

NEUTRO

NOMINATIVO

Beli

Belae

Bela

GENITIVO

Belorum

Belarum

Belorum

DATIVO

Belis

Belis

Belis

ACUSATIVO

Belos

Belas

Bela

VOCATIVO

Beli

Belae

Bela

ABLATIVO

Belis

Belis

Belis

 

REFERÊNCIA:

SOUZA, Ari José de. Estudos latinos I. Disponível em: http://repositorio.unicentro.br:8080/jspui/bitstream/%20Estudos%Latinos%20l.pdf. Acesso em: 11 de outubro de 2020

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