O cinema surrealista
(Imagem
do filme Um cão andaluz, de 1928).
Paulo
R. Prado
O movimento surrealista, segundo
Canizal (2006), teve seu apogeu por volta de 1933. Baseado nos princípios de
que existe uma realidade superior, à qual se chega através dos processos
oníricos (relacionados à natureza dos sonhos), o Surrealismo apresenta imagens
enigmáticas e, aparentemente, desconexas que se desprendem do racional. É através
de sua linguagem, singular, que os artistas, desse movimento, apresentam em
suas obras todo um simbolismo que representa o acesso a essa realidade
superior.
Ronald
Bergan (2010) cita o poeta francês, André Breton, que em seu Manifesto do surrealismo, de 1924, defendeu
o Surrealismo como sendo uma arte que se isenta do controle da razão e de
preocupações estéticas ou morais. O primeiro filme surrealista é o curta Entreato, de 1924, de René Clair, que
fazendo uso de movimentos acelerados e câmera lenta, acompanha dois personagens
perseguindo um carro fúnebre, até um velório. O cinema se revelou o meio ideal
para as teorias de Breton.
Os grandes pintores
surrealistas acreditavam que limitar a representação das coisas aos moldes
formulados pela consciência era restringir de maneira intolerável a liberdade
e, além disso, reduzir a um mínimo insignificante as riquezas e possibilidades
significativas da existência (CANIZAL, 2006, p. 145).
Através
da espontaneidade artística, surrealista, foi sendo construída uma linguagem que
proporcionava a liberdade, para expressar e criar, sem a necessidade de seguir padrões,
rompendo assim com conceitos autoritários da sociedade.
O
cinema surrealista possui várias obras que apresentam, em seu conteúdo, extrema
importância representativa pra esse gênero, como o filme Um cão andaluz, fruto da colaboração entre Salvador Dalí e Luis Buñuel,
que mostra, em seus minutos iniciais, a icônica cena de um olho sendo cortado
por uma navalha. O Surrealismo trouxe, à luz, imagens reprimidas e traumas
armazenados no inconsciente do ser humano, alternando entre imagens do mundo real
e do mundo dos sonhos.
Para
Canizal (2006), atualmente se reconhece que dentre as diversas linguagens que o
Surrealismo desejava restaurar, as utilizadas nos principais filmes desse
gênero, são as que explicam, de maneira mais eficaz, um mundo, ainda
desconhecido, situado sob as ruinas que a hipocrisia social e os horrores da
guerra disseminaram. Na expressão artística surrealista a liberdade de criação
é o princípio fundamental e diferencial.
Com seus símbolos
enigmáticos, o surrealismo, atraiu muitos cineastas do Leste Europeu que
trabalhavam sob regimes repressivos, Walerian Borowczyk e Wojciech Has, na
Polônia, e Jan Svankmajer, na antiga Tchecoslováquia. O humor surreal permeou,
ainda, Canções do segundo andar, de
2000, e Vocês, os vivos, de 2007,
ambos do sueco Roy Andersson (BERGAN, 2010, p. 43).
(Imagem do filme
Quero ser John Malkovich, de 1999).
Referências:
BERGAN, R. Ismos: para entender o cinema. São
Paulo: Globo, 2010, p. 42-43.
CANIZAL, Eduardo
Penuela. Surrealismo. In: MASCARELLO, F (org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 143-155.
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