segunda-feira, 13 de abril de 2020


O cinema surrealista


(Imagem do filme Um cão andaluz, de 1928).


Paulo R. Prado

            O movimento surrealista, segundo Canizal (2006), teve seu apogeu por volta de 1933. Baseado nos princípios de que existe uma realidade superior, à qual se chega através dos processos oníricos (relacionados à natureza dos sonhos), o Surrealismo apresenta imagens enigmáticas e, aparentemente, desconexas que se desprendem do racional. É através de sua linguagem, singular, que os artistas, desse movimento, apresentam em suas obras todo um simbolismo que representa o acesso a essa realidade superior.
Ronald Bergan (2010) cita o poeta francês, André Breton, que em seu Manifesto do surrealismo, de 1924, defendeu o Surrealismo como sendo uma arte que se isenta do controle da razão e de preocupações estéticas ou morais. O primeiro filme surrealista é o curta Entreato, de 1924, de René Clair, que fazendo uso de movimentos acelerados e câmera lenta, acompanha dois personagens perseguindo um carro fúnebre, até um velório. O cinema se revelou o meio ideal para as teorias de Breton.

Os grandes pintores surrealistas acreditavam que limitar a representação das coisas aos moldes formulados pela consciência era restringir de maneira intolerável a liberdade e, além disso, reduzir a um mínimo insignificante as riquezas e possibilidades significativas da existência (CANIZAL, 2006, p. 145).

Através da espontaneidade artística, surrealista, foi sendo construída uma linguagem que proporcionava a liberdade, para expressar e criar, sem a necessidade de seguir padrões, rompendo assim com conceitos autoritários da sociedade.
O cinema surrealista possui várias obras que apresentam, em seu conteúdo, extrema importância representativa pra esse gênero, como o filme Um cão andaluz, fruto da colaboração entre Salvador Dalí e Luis Buñuel, que mostra, em seus minutos iniciais, a icônica cena de um olho sendo cortado por uma navalha. O Surrealismo trouxe, à luz, imagens reprimidas e traumas armazenados no inconsciente do ser humano, alternando entre imagens do mundo real e do mundo dos sonhos.
Para Canizal (2006), atualmente se reconhece que dentre as diversas linguagens que o Surrealismo desejava restaurar, as utilizadas nos principais filmes desse gênero, são as que explicam, de maneira mais eficaz, um mundo, ainda desconhecido, situado sob as ruinas que a hipocrisia social e os horrores da guerra disseminaram. Na expressão artística surrealista a liberdade de criação é o princípio fundamental e diferencial.

Com seus símbolos enigmáticos, o surrealismo, atraiu muitos cineastas do Leste Europeu que trabalhavam sob regimes repressivos, Walerian Borowczyk e Wojciech Has, na Polônia, e Jan Svankmajer, na antiga Tchecoslováquia. O humor surreal permeou, ainda, Canções do segundo andar, de 2000, e Vocês, os vivos, de 2007, ambos do sueco Roy Andersson (BERGAN, 2010, p. 43).

            A influência surrealista não se deu apenas na Europa. O Surrealismo também foi explorado pelo cinema hollywoodiano. Uma das produções americanas, que seguem esse gênero, é o filme Quero ser John Malkovich, roteirizado por Charlie Kaufman e dirigido por Spike Jonze. O longa apresenta, em sua narrativa, um portal que dá acesso, durante 15 minutos, à mente do ator John Malkovich, interpretado por ele mesmo. Para aqueles que buscam expressar-se de maneira livre e descompromissada com o mundo real, o surrealismo tem sido fonte inesgotável de inspiração.


(Imagem do filme Quero ser John Malkovich, de 1999).



Referências:

BERGAN, R. Ismos: para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010, p. 42-43.
CANIZAL, Eduardo Penuela. Surrealismo. In: MASCARELLO, F (org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 143-155.


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